domingo, 26 de julho de 2009

O Brega - capítulo 4 (por Frederico Alfredo Rossi)

Mais uma do Brega

Waldomiro, pela sua origem humilde e nordestina, sempre foi muito chegado ao Espiritismo. Fez todo desenvolvimento mediúnico, e foi pai de santo por uns tempos. Não tem mais comandado nenhum terreiro, porém ainda faz suas oferendas e trabalhos. Na maior parte das vezes para ele mesmo, mas vez em quando para algum amigo necessitado.

Foi o que aconteceu no ano passado. Um amigo de seu primo, de Santa Catarina, descendente de alemães, e morador de Pomerode, estava passando maus bocados com a esposa, que tinha um fogo solar, e adorava um salsichão.

O Alemão (como era chamado o amigo de seu primo) necessitava que algo fora do comum ocorresse para resolver aquela situação constrangedora.
Já havia feito de tudo e seu último recurso era apelar para o sobrenatural.

Como o Brega entendia bem desses assuntos (mandinga e mulher fogosa), sabendo do babado, se prontificou a ajudar. O Alemão levou a sério, e pagou passagem de avião e tudo mais.
Logo que chegou, a primeira coisa que Waldomiro quis saber é se os ingredientes da oferenda tinham sido providenciados:

• Um litro de cachaça;

• Uma galinha preta;

• Canjica;

• Farofa;

• Azeite de Dendê;

• Uma calcinha sem lavar;

• Um chumaço de cabelo;

A calcinha e o cabelo foi molezinha, mas o resto teve que ser adaptado, pois a região possuía seus próprios costumes.

• No lugar da cachaça, Steinhaeger...

• No lugar da galinha, Marreco...

• No lugar da canjica, Sagu...

• No lugar da farofa, Repolho Roxo...

• No lugar do Dendê, Mostarda Escura...

O Brega não se responsabilizou pelo resultado, pois nunca havia utilizado esses ingredientes... Mas, com boa vontade, prosseguiu com o intento.
Outra exigência era conhecer a esposa do moço antes de iniciar os trabalhos.
Prontamente foi convidado a jantar na casa do cara, e aí já conheceria a menina.

Waldomiro Peçanha não estava acostumado com aquilo... 1,70 m de puro delírio... Loura de cabelos longos, olhos de um azul que chega a enjoar, pequenos seios e cintura também, porém quadris largos e coxas grossas, um bumbum arrebitado, delicioso.

Rosto perfeito, como uma boneca de porcelana, mas com uma força e atitude no olhar que parecia ser um ser superior... E era.
O Brega não estava acostumado com aquilo... O negócio dele era as “Mocréias”... Essa mulher não era seu estilo... Mais parecia uma pintura.
Fazer um trabalho para apagar o fogo desse avião era até pecado. Pecado maior era não desfrutar desse néctar dos deuses.

Depois de pensar um pouco, Waldomiro decidiu não fazer trabalho nenhum...
Recheou o marreco, tomou a cachaça e, prevenido como ele só, emprestou sua garrafada “levanta defunto” que carrega consigo por onde anda... Um produto natural, da terra, composto das mais finas ervas da caatinga nordestina, para o Alemão, que prontamente bebeu...

No dia seguinte, ao se despedir do casal, a loura tascou um doce beijo no rosto de Waldomiro e agradeceu pela imensa ajuda e pela noite maravilhosa que teve com o marido...

O Brega já beijou muitas mulheres e já foi beijado com muito mais sacanagem... Já se esqueceu da maioria, mas do beijo da loura Catarinense, esse ele não esquece jamais.

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