domingo, 13 de setembro de 2009

O Brega - capítulo 7 (por Frederico Alfredo Rossi)

A teoria da conspiração

Logo após a vitória do Brasil na copa de 70, tomado de uma alegria contagiante, Waldomiro Pessanha, como que recebendo mensagens psicografadas, começou a escrever histórias que pareciam estranhas para ele, mas que com o passar do tempo fizeram o maior sentido.
Algumas viraram literatura de cordel, e até deram uma grana na feira de Caruaru. Entretanto, uma de suas inspirações ficou famosa. Um conto que relatava sobre um mundo paralelo ao da caatinga, controlado por máquinas, onde as pessoas tinham poderes além da imaginação. Como sempre, na luta do bem contra o mal, os bandidos queriam destruir a fonte de poder dos mocinhos: um ser superior, defendido com unhas e dentes pela turma do bem. Para entrar neste mundo paralelo, o “cabra” era ligado a uma máquina que o transportava para outra dimensão. Era uma viajem e tanto para o Brega.
Num belo dia, um roteirista dos “States” em turismo pelo Brasil gostou da história e comprou os direitos de filmagem. Waldomiro faturou uma boa grana na venda do conto “A Matriz”, que veio a ser filmado algum tempo depois.
Mas essa não foi sua maior viajem. Começou a escrever sobre uma tal “Teoria da Conspiração”, onde uma quadrilha de malucos simulava a morte de várias celebridades colocando um clone no lugar do falecido em seu enterro. Seqüestravam o original e levavam para um lugar desconhecido, onde seriam obrigados a exibir seus dotes artísticos para o deleite de uma horda de megalomaníacos de várias nacionalidades, que pagariam altos valores por cada apresentação. A “Ilha da Fantasia”, como era chamado o local, oferecia várias atrações. Marilyn, Elvis, Hendricks, Joplin, Seixas e sua mais nova aquisição Michael.
Essa confraria de malucos bilionários estaria preparando a invasão de um país ao sul da linha imaginária, para transformá-lo no “Paraíso dos Bacanas”, com muito sol, praia, mulheres maravilhosas, samba e vida mansa, às custas da escravidão do povo nativo. A invasão começaria pela inserção de seres totalmente comandados por um famoso sistema operacional de computador criado pelo chefe da “gang”, seres estes colocados no comando político e da comunicação do cobiçado país, facilmente identificados pelos sócios da firma por algumas características peculiares: carecas de bigode, a falta de um dedo, apresentadores de programas dominicais e de programas de venda de imóveis... no céu.
Dos que liam os escritos do Brega, alguns nada entendia e outros mais sensatos recomendaram que Waldomiro parasse com o consumo insano de uma bebida chamada “Paratudo”, um produto composto das mais finas ervas da caatinga nordestina, alcoólico e, por que não dizer, radioativo.
Conselho seguido, as histórias foram desaparecendo e o Brega mudou de ramo.
Até hoje não se sabe se tudo aquilo foi loucura ou pura vidência.