sábado, 8 de agosto de 2009

O Brega - capítulo 5 (por Frederico Alfredo Rossi)

Nos bastidores do poder

Peçanha trabalhou em diversos lugares. Fez de tudo um pouco. Quase sempre mal feito.
Dentre suas peripécias laborais, uma delas influencia sua vida até hoje.
Lá pelo final dos anos setenta e início dos anos oitenta, arranjou uma vaga de ajudante em uma metalúrgica.
Que merda de trampo. Chão sujo? Peçanha limpava. Carregar e descarregar caminhão? Peçanha o fazia. Limpar as máquinas? Era com ele. No organograma da empresa ele era o primeiro e único, de baixo para cima é claro.
Uma certa tarde ouviu um grito... um grito horrendo... um grito lancinante. Correu para ver o que era, e ao chegar próximo à prensa, quase desmaiou. Seu colega Muniz Crustáceo havia perdido o dedo. O sangue jorrava, Crustáceo berrava, e Peçanha dizia: CARALHO!
A limpeza era por sua conta. Aquele sangue com certo cheiro de conhaque, aquele dedo podre e fétido que foi para o lixo como um resto de algo que não serve mais para nada, era quase um alento naquele dia sem graça.
Semanas depois Crustáceo retornou ao trabalho e por uma manobra do destino se apegou a Peçanha e lhe pediu conselhos.
Crustáceo: - E agora companhêro? Que é que eu fasço de minha vidia?
Peçanha: - Que é isso companheiro? Entra pro sindicato! Monta um partido e fode todo mundo!
O tempo foi passando e o conselho de Peçanha foi tomando corpo, e como uma profecia do apocalipse foi acontecendo. Muniz Crustáceo sempre se aconselhando com Peçanha realizava prodígios jamais imaginados. Peçanha ficava com a parte suja da coisa. Comprava o conhaque, recolhia, transportava e distribuía o caixa dois, aliciava as meninas para as festinhas, e apagava os empecilhos que surgiam pelo caminho.
A profecia se cumpriu. A Besta tomou o poder para si, cuspiu sua peçonha e corroeu a confiança dos que lhe referendaram. Nesse momento, o Brega se viu envolvido em uma trama que o assustou. Saltou fora... ainda era tempo.
Anos depois, Peçanha soube que seu aconselhado após ter enfiado toda aquela ideologia no rabo, estava curtindo uma vida capitalista em Miami Beach, esbanjando os dividendos adquiridos com as comissões e agrados inerentes ao cargo ocupado, após desvanecer a esperança de milhões.
Que decepção!

ESTA É UMA OBRA DE FICÇÃO.

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