sábado, 20 de junho de 2009

O Brega - capítulo 1 (por Frederico Alfredo Rossi)

A roupa era bem usada, mas a melhor que tinha para ocasiões especiais. Calça "Boca de Sino" xadrez, camisa laranja, paletó "Fecha Canal", sapato "Carrapeta" marrom. O xadrez da calça, em tons de vinho, vermelho, carmim, escarlate e laranja. Acessórios não faltavam. Pulseiras, correntes no pescoço, medalhão, anel imitação de Rubi, e outro imitando curso superior. A unha do dedo mindinho da mão direita, grande e firme, como uma pequena chave de fenda. Ele chama de "O dedo coçador".

O cabelo meio "Pichaim", repartido de lado, e a muito custo penteado para baixo. Costeletas "Suíças" até o meio do rosto, e um bigode indecente cobrindo até o lábio inferior.

A roupa cheirava a peido, e "O Brega" cheirava a cebola.

A maleta de couro, já bem desgastada, carregava documentos e objetos de sua estima. Chaveiro do seu time de coração, canivete, dois maços de Minister, caixa de fósforos, canetas, cortador de unha, lixa, gel, desodorante, dados, baralho, santinho, barbeador e uma garrucha carregada. Escova de dente, pasta e um pedaço de fumo. Duas cuecas, uma camisa, uma calça e um par de meias. Rapé, três fitas cassete, uma revistinha pornô do tipo "Catecismo", e duas camisinhas. Quatro fotos 3 x 4, e um pedaço de rapadura.

Precisava tirar a carteira de trabalho e de saúde, para procurar emprego. Porém, chegando na rodoviária, tinha de arrumar onde ficar. Seu primo estava numa pensão na rua Helvétia. Foi andando até lá, encontrou-o, e acertou tudo. O quarto tinha mais dois carinhas. "O Brega" ia ficar no mesmo beliche que seu primo.

"O Brega" foi com seu primo até a fiação de algodão em que trabalhava. Apresentou-se, e logo estava empregado como "Ajudante Geral". Era um bom começo.

A primeira semana passou sem novidades. Na hora do almoço, encontrava-se com uma menina que trabalhava em outro setor da fábrica...se gostaram...se beijaram...e iniciaram um romance.

Ele tinha lá seu lado compositor, e tocava tres acordes no violão. Então fez sua primeira canção...para sua amada...Gerusa de Sá Fagundes:

Ó meu amor, foi paixão à primeira vista
Desde o primeiro beijo, você entrou na minha vida
Aqueles lábios, eram um misto de mel e Sucrílhos
E aquele abraço, um afago de mãe arrependida

Gerusa de Sá Fagundes
Me ame a mim, assim como eu te amo você
Jamais me abandone, pois do contrário eu morrerei

Gerusa de Sá Fagundes
Me ame a mim, assim como eu te amo você
Jamais me abandone, pois do contrário eu morrerei

Eu lhe proponho, uma noite em convívio carnal
Nós dois lado a lado, parecendo dois "animals" (em ingrêis)
Mas na verdade, esta súplica que faço a você
É por causa de seus peitos, que me fazem enlouquecer.

Ela adorou...Amaram-se feito dois animais, e no dia seguinte, cada um foi para o seu lado...em busca de um novo amor.

"O Brega" não se abala. Já tem outra musa em seu coração...e a vida continua...

Nenhum comentário: